A Ala Autónoma foi o segundo edifício do campus universitário do Iscte projetado pelo arquiteto Raúl Hestnes Ferreira, que deste modo procurou dar resposta à necessidade de espaço para novas exigências programáticas da instituição. A Ala Autónoma albergou, assim, um programa de salas de aula, gabinetes para docentes, dois auditórios, um centro de documentação e serviços de bar.
Apesar de ter surgido como ampliação do Iscte I, o edifício foi concebido com uma certa autonomia deste, afirmada desde logo na imagem própria do edifício. Construído integralmente em betão branco, apresenta uma geometria complexa que se desenvolve em torno de um pátio poligonal e contrasta com a regularidade formal do Iscte I.
A circulação interna efetua-se através de percursos de largura e altura variáveis, destacando-se as rampas no lado norte que permitem a visualização do pátio central.
Também a localização da entrada principal reforçou esta afirmação de autonomia. O acesso principal da Ala Autónoma posicionou-se do lado oposto ao Iscte I, sendo que a ligação entre os dois edifícios, impercetível à superfície, realiza-se através de um túnel. A entrada, situada sob um pórtico triangular, dialoga assim com o INDEG, situado mesmo em fronte.
Edificada cerca de 15 anos após o Iscte I, a Ala Autónoma, embora ligada ao edifício inicial por um túnel, possui a sua própria identidade formal, refletindo o carácter da instituição tal como se foi definindo ao longo dos anos.
Para além do acréscimo em Salas de aula e Gabinetes para os docentes, esta nova Ala dispõe também de dois Auditórios, um Centro de Documentação e apoios de Bar.
A forma construtiva evoluiu para o uso integral de paredes em betão branco, que melhor se harmonizavam com as aberturas do edifício, segundo as exigências dos espaços interiores.
À regularidade do edifício inicial, corresponde a Ala Autónoma com uma geometria mais complexa, em grande parte como resposta à envolvente. Ao pátio quadrado do Iscte I, opõe-se um espaço livre de base triangular que articula a disposição dos núcleos do edifício entre si.
O edifício como que “emerge” do solo, graduando as cérceas com a envolvente. A sul, o muro fechado é rasgado pela abertura dita “cabeça de vaca”, no ponto onde os espaços das aulas e dos docentes se interligam num corredor a que foi atribuído grande significado e donde também se visualiza o pátio triangular. A poente tem uma presença ténue para o prado com árvores, que se manteve, e onde se implantou um volume circular para preservar um antigo pinheiro manso (que, entretanto, morreu…).
O edifício apenas se eleva a nascente e a Norte, onde se confronta com o espaço vazio, não planeado, mais tarde definido como a Praça Central do Iscte, agora concretizado. A Entrada da Ala Autónoma, a nascente, situada no Átrio que finaliza o percurso interior, iniciado no túnel de ligação ao Iscte I, cria com a Entrada do INDEG uma desejada “tensão urbana”.
A diversidade expressiva do exterior tem o seu contraponto no interior com a “grande escala” do espaço das rampas que, por contraste, regula o acesso, a distribuição e a altura dos compartimentos de cada piso.
Circulações e Átrio
As principais circulações da Ala Autónoma estruturam-se através do percurso existente do lado norte, entre o túnel de comunicação com o Iscte I e a Entrada exterior, e as suas ramificações para sul. Esses percursos tanto são estreitos e com pé direitos limitados, como se expandem em altura, estabelecendo contrastes espaciais para uma dinamização dos espaços.
As ligações verticais, em conexão com os percursos horizontais descritos, processam-se quer pelas rampas, concebidas como “corredores inclinados” na continuidade dos percursos horizontais, através de espaços iluminados pelos grandes vãos exteriores, a norte, quer por elevadores ou escadas estrategicamente localizadas. Estas últimas, irregulares na sua geometria, asseguram uma ligação visual com o pátio de base triangular no centro do edifício.
A Entrada do edifício, próxima do INDEG, orienta-se a sudeste e está abrigada por um espaço-pórtico triangular, de pé direito duplo, que contem uma varanda também triangular, acessível do piso superior, propícia a eventuais comunicações que não ocorrem.
O Átrio de pé direito baixo, antecedendo o espaço elevado das rampas conduz diretamente à zona dos auditórios, a mais pública do edifício.
Auditórios
Situados no piso térreo do edifício, em ligação direta com o Átrio, os dois auditórios planos com um espaço técnico entre eles, são antecedidos por um espaço de estar com um pequeno bar de serviço de cafés, ligado ao pátio, no centro do edifício.
Os três espaços desta zona formam um sistema programado para ser utilizado separadamente ou em conjunto, para realizações várias no âmbito escolar ou por solicitação externa.
A relação com o terreno envolvente, deriva dos conceitos adotados para a conceção do edifício, que se enterra no solo, emergindo onde as exigências de acesso ou iluminação o sugeriram. Assim, este conjunto de espaços, de nível, acede diretamente, do lado nascente à zona noroeste do pátio, enquanto a poente, dando para o prado exterior, apenas usufrui de aberturas elevadas que garantem luz natural para os auditórios.
Aulas e Gabinetes
Os corpos de aulas e gabinetes, situados respetivamente a poente e nascente do edifício, possuem dimensões e pés direitos diferentes, tendo em conta a dimensão e funcionalidade dos espaços. Essa caracterização foi determinante para a configuração do edifício e sua volumetria, nomeadamente quanto à diversidade do número de pisos e aos desníveis entre eles.
O acesso a estas duas zonas, situadas dum lado e doutro do pátio, efetua-se perpendicularmente a partir do percurso principal do lado norte do edifício, não existindo qualquer barreira no acesso às aulas, sobrepostas à zona de anfiteatros, enquanto a área dos gabinetes tem um estatuto de maior privacidade, com uma porta na entrada no corredor de distribuição que se alarga, terminando numa bolsa.
No entanto, estas duas zonas encontram-se ligadas por uma comunicação, normalmente fechada, que designamos por “corredor peripatético” limitado por uma parede exterior fechada a sul, com exceção fuma única abertura com dois pisos de elevação, crismada de “cabeça de vaca”, no alinhamento duma abertura para o pátio triangular.
Foi pensado que esse corredor, unindo as duas zonas, de professores e estudantes, permitiria encontros eventuais para reflexão sobre problemas suscitados pelas aulas próximas, beneficiando da situação única de convergência entre as aberturas para o exterior e para o pátio.
Centro de Documentação
O Centro de Documentação situa-se no último piso do edifício, no extremo do sistema de rampas, correspondente ao volume mais elevado da Autónoma, a nascente.
A configuração deste corpo permitiu que no interior fossem definidos dois níveis, sendo o inferior destinado à zona principal de leitura, com as estantes embutidas ao longo das paredes e o espaço central de leitura. Os vãos que iluminam esta zona situam-se a sul, do lado do terraço que cobre o corpo adjacente.
Uma escada circular conduz ao nível superior onde se definiram postos individuais para um estudo mais concentrado, junto a aberturas exteriores, para além de uma sala para trabalho de grupo ou outra função análoga.
Texto em ‘ver mais’ retirado de Raúl Hestnes Ferreira, Arquitectura e Universidade – Iscte, Lisboa, 1972-2005 (aceder doc).
VIDEOS
Arquitectura do Iscte (aceder vídeo)
Programa apresentado por Manuel Graça Dias sobre arquitetura dedicado ao edifício da Ala Autónoma do Iscte e Centro de Formação do INDEG/Iscte, da autoria do arquiteto Raúl Hestnes Ferreira, maqueta, pormenores arquitetónicos, fachada e interior, declarações do próprio e do arquiteto Paulo Varela Gomes.
Arquivo da RTP. Ano: 1994 Duração: 00:23:35
PUBLICAÇÕES
Ala Autónoma do I.S.C.T.E., Lisboa
Architécti, nº11-12, pp.59-61. Data: 1991-08.
Imagens texto © Fundação Marques da Silva, Arquivo Raúl Hestnes Ferreira
Exterior da Ala Autónoma (1989-1995). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0213-foto6 007.
Ala Autónoma, acessos verticais (1989-1995). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0213-foto3.2 004.
Ala Autónoma, corredor dos gabinetes (1989-1995). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0213-fotoala2.