Iscte I: 1976 – 1978

Primeiro edifício do campus, o Iscte I foi construído pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974 para albergar os cursos de Gestão de Empresas e Sociologia do Trabalho. Concebido pelo arquiteto Raúl Hestnes Ferreira em coautoria com Rodrigo Rau, num terreno situado entre o Hospital de Santa Maria e a Biblioteca Nacional, mas ainda com marcas do seu passado rural, o edifício começou por ter apenas uma Ala, a Poente. No entanto, o projeto previu desde o início a sua progressiva ampliação, assente num fechamento quadrangular em torno de uma praça central descoberta.

Nos cantos de ligação entre as alas posicionaram-se átrios e anfiteatros, enquanto os quatro corpos, concebidos em planta livre de forma a facilitar a adaptação dos espaços sempre que necessário, albergaram salas de aula e gabinetes. O betão armado foi o material eleito, quer para a estrutura, quer para os painéis exteriores, cujo módulo e repetição definiram a identidade formal do edifício

Em 1994 foi inaugurado, no pátio, um Pavilhão-Esplanada em aço, betão e vidro, para acolher os serviços de refeições para a então já significativa população do Iscte I. No mesmo ano abriu a Cave da Ala Sul, destinada principalmente ao departamento de Informática, literalmente desenterrada por entre os pilares do edifício.

O edifício do Iscte I foi concebido para a área da Cidade Universitária de Lisboa, para funcionamento dos Cursos de Gestão de Empresas e Sociologia do Trabalho, que polarizaram o desenvolvimento inicial da instituição recém-constituída, e de outros posteriormente criados.

O carácter embrionário da instituição e a necessidade de executar projetos e obras num curto prazo, para permitir um funcionamento imediato, sugeriram uma edificação modular, “aberta”, adaptável a uma futura evolução.

Apenas se justificando inicialmente a construção dum corpo retangular com aulas, pequenos anfiteatros e gabinetes, propusemos quadruplicar a área prevista para ocupação, criando uma reserva para futuras expansões e definindo, segundo uma matriz clássica, um complexo de planta quadrangular com um espaço central descoberto.

As alas do edifício, em planta livre, permitindo a adaptação de espaços a definir posteriormente, apoiam-se numa estrutura pontual de betão, revestidos com painéis exteriores do mesmo material (especialmente desenhados por nós, numa primeira conceção de painéis para execução no estaleiro da obra). Os corpos de canto, mais rígidos e fechados, com funções e espaços pré-definidos, têm por base paredes de betão armado moldadas “in situ”.

Em breve, a expansão em paralelo da instituição e da edificação, conduziu ao preenchimento do volume inicialmente previsto, exigindo a construção de novos núcleos para satisfazer as necessidades pedagógicas e de funcionamento do Iscte.

Pavilhão Esplanada: 1987 – 1994

De acordo com as necessidades de expansão do Iscte, e da Associação dos Estudantes, foi considerada a ocupação do Pátio do Iscte, sem prejuízo das funções que aí ocorrem, de contemplação, estudo, namoro e ainda de espetáculos, representações e festas de fim-de-semana.

Pensou-se que a solução mais aceitável para expandir a sala interior de refeições e convívio dos estudantes para o Pátio, seria uma estrutura de aço e vidro, em que a cobertura sólida seria uma área alternativa, de esplanada e, eventualmente, de palco.

A configuração geométrica ortogonal, dominante do Iscte I, seria mantida numa sucessão de três quadrados, ligeiramente desnivelados em altura e colocados em diagonal, de modo a harmonizar-se com os desníveis do anfiteatro ao ar livre.

A forma construtiva adotada, com perfis de aço suportando lajes pré-fabricadas tipo Patial com pranchas em tijolo, inferiormente à vista, mas revestidas superiormente com pedra, permitiu acentuar o contraste entre a estrutura leve, de aço, e a “espessura” das coberturas, como que sugerindo “superfícies levitadas”, sem tocar o solo do pátio.

A “leveza” da estrutura, enquadrada por superfícies envidraçadas, é reforçada pelo desenho dos pormenores que acentua o carácter dos materiais utilizados.

Cave da Ala Sul: 1992 – 1994

Tentando obter uma área adicional para o departamento de informática, procedemos à verificação do espaço existente sob o pavimento do piso térreo da Ala sul do Iscte I, deparando-nos com uma zona escavada no terreno, com enormes sapatas dos pilares no interior, cuja elevação não permitia a criação duma área com um pé direito minimamente aceitável.

A solução adotada para obter uma zona adicional no edifício nasceu dessa impossibilidade, propondo-se que o pavimento desta nova área alinhasse com o nível inferior das sapatas, integrando-as no interior como elementos configuradores do espaço. Esta solução, que permitiu um significativo acréscimo da área útil do Iscte I, exigiu um rigoroso estudo técnico de ordem estrutural, para reforçar a sua solidez, tanto mais que se verificou que as sapatas não continham armaduras de ferro…

A conceção desta zona, para além da integração dos volumes das sapatas, permitiu resolver os desníveis existentes no piso inferior do edifício e assegurar a continuidade dos percursos horizontais e verticais ligando, através dum eixo central, os cantos sudoeste (espaço assinalado por um pilar e sapata pintados de vermelho), sob a entrada principal do edifício, e sudeste, a partir do qual se efetivou o posterior acesso à Ala Autónoma.

Para assegurar a iluminação natural das novas aulas definiram-se aberturas nos muros exteriores, completadas com o arranjo dos espaços exteriores anexos, quer do lado do pátio, a norte, rebaixando o nível superior do anfiteatro ao ar livre, quer do lado sul, no exterior do edifício, escavando o solo e definindo superfícies cónicas plantadas para proteção das aberturas.

Texto retirado de Raúl Hestnes Ferreira, Arquitectura e Universidade – Iscte, Lisboa, 1972-2005 (aceder doc).

Imagens texto © Fundação Marques da Silva, Arquivo Raúl Hestnes Ferreira

Edifício Iscte I (1976-1978). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0102-foto2.1 002.

Exterior do Pavilhão Esplanada (1987-1994). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0237-fotoEXP004.

Cave da Ala Sul do Iscte I (1992-1994). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0102-fotoIscte1 006.

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