Iscte II / ICS: 1993 – 2002

O Edifício do Iscte II / ICS constitui a última fase do Complexo do Iscte da autoria do arquiteto Raúl Hestnes Ferreira que, na sua construção, optou pela utilização de betão branco aparente.

Dada a dimensão do edifício e a necessidade de se harmonizar com a envolvente, ele expressa-se de modo diversificado, conforme a sua orientação. A norte, assume a importância do seu posicionamento num ponto elevado da Cidade Universitária, enquanto a poente se compatibiliza com o edifício inicial do Iscte garantindo uma comunicação através de um passadiço em betão. Por último, a sul, delimita a Praça Central do Iscte.

Os espaços principais do edifício são, para além do Átrio, acessível de várias direções e a vários níveis, um Auditório para 500 pessoas, Anfiteatros de 200 e 100 pessoas, a Biblioteca Central do Iscte, salas de aula, gabinetes, laboratórios e espaços multimédia, zonas de convívio, refeições e bar. Com a construção deste edifício, o campus do Iscte ganhou uma maior capacidade e funcionalidade, alcançadas com particular coerência e originalidade estética. Estes valores foram justamente reconhecidos pela Câmara Municipal de Lisboa, que galardoou o Iscte II / ICS com o Prémio Valmor, em 2002, ano da sua inauguração.

De acordo com as necessidades de expansão do Iscte, e da Associação dos Estudantes, foi considerada a ocupação do Pátio do Iscte, sem prejuízo das funções que aí ocorrem, de contemplação, estudo, namoro e ainda de espetáculos, representações e festas de fim-de-semana.

Pensou-se que a solução mais aceitável para expandir a sala interior de refeições e convívio dos estudantes para o Pátio, seria uma estrutura de aço e vidro, em que a cobertura sólida seria uma área alternativa, de esplanada e, eventualmente, de palco.

A configuração geométrica ortogonal, dominante do Iscte I, seria mantida numa sucessão de três quadrados, ligeiramente desnivelados em altura e colocados em diagonal, de modo a harmonizar-se com os desníveis do anfiteatro ao ar livre.

A forma construtiva adotada, com perfis de aço suportando lajes pré-fabricadas tipo Patial com pranchas em tijolo, inferiormente à vista, mas revestidas superiormente com pedra, permitiu acentuar o contraste entre a estrutura leve, de aço, e a “espessura” das coberturas, como que sugerindo “superfícies levitadas”, sem tocar o solo do pátio.

A “leveza” da estrutura, enquadrada por superfícies envidraçadas, é reforçada pelo desenho dos pormenores que acentua o carácter dos materiais utilizados.

Átrio, Circulações, Auditórios e Anfiteatros do Iscte II

A Átrio central do Iscte II, encontra-se em comunicação direta com a “galeria-passadiço” de ligação ao piso térreo da entrada do Iscte I, mas que, dado o desnível do terreno e a estruturação deste edifício, se situa quatro pisos acima do seu pavimento principal.

Trata-se de um espaço com uma forte dominante vertical que reflete a complexidade e a geometria geral do edifício, por um lado fortemente vinculado ao movimento das rampas e por outro marcado pela luz de sul, filtrada por aberturas situadas nos pisos superiores. A complexidade e ambiguidade deste espaço é ainda servida pelas inúmeras entradas do exterior, processadas a vários níveis e de várias direções, uma delas a poente sob o passadiço, outra a partir da Praça Central, a sul, e a principal, desde a Av. Prof. Aníbal Bettencourt, do lado norte. Acrescendo a essa ambiguidade, o limite superior do espaço, pintado de azul, sobre o qual ainda existem dois pisos da biblioteca do Iscte, quando visto dos pisos inferiores, sugere o céu.

Os percursos que conduzem aos diversos espaços podem utilizar as rampas, também elas, como na Ala Autónoma, definidas corno corredores inclinados, as escadas, ou ainda, para mais comodamente vencer a altura do átrio, os elevadores próximos. Vindo do Iscte I, o primeiro contacto com este espaço processa-se na proximidade da Biblioteca e, no piso inferior, com um conjunto de salas de aula, sob as quais existem dois pisos de anfiteatros, situando-se no seu nível mais baixo, que é o da Entrada a norte, o Auditório principal do Iscte, com cerca de 500 lugares.

Todos os espaços descritos, e também os núcleos de aulas a sul, e dos gabinetes num corpo a nascente, estão em ligação com o Átrio, mas dum modo diferenciado, direta ou indiretamente relacionados com o traçado das rampas, varandins e corredores. O piso da Entrada, do qual se acede ao grande Auditório e a outros dois menores, é também o do términus inferior das rampas, dispondo logicamente de uma área de pavimento mais ampla, que tem continuidade, através de uma nova rampa, ao espaço de exposições, situado ao nível inferior deste átrio vertical.

Nos pisos superiores do átrio, a sul e na proximidade da Praça Central, encontram-se as zonas de restauração em dois pisos, destinados às refeições de professores e estudantes, mas também ao apoio dos visitantes que frequentem os espaços dos auditórios, exposições ou outros.

Poder-se-á com propriedade dizer que este conjunto de espaços ligados ao átrio é o coração do Iscte II, com a sua diversidade espacial, o seu movimento e a sua luz.

Biblioteca Central do Iscte

Pretendeu-se que a Biblioteca Central do Iscte se localizasse junto ao centro da instituição, com a sua entrada situada no piso que sempre foi, desde o início, o mais percorrido de todos. Como já foi referido, o teto do átrio com a cor do céu situa-se neste piso, embora a biblioteca disponha ainda de dois pisos superiores, não detetáveis do átrio e apenas descobertos quando, no interior da Biblioteca, se transpõe o volume que oculta as escadas de acesso aos pisos superiores, escada essa que ganha especial relevância quando a percorremos, sob a luz natural de uma grande abertura superior.

Assim, o espaço inferior, compartimentado em várias zonas, tem em conta a sua funcionalidade para receção dos utentes, para a exposição de publicações recentes ou tematicamente oportunas ou para conceder fácil acesso às áreas de direção e administração.

Os espaços superiores, por sua vez, estão orientados para a consulta e leitura da documentação, distribuindo-se logicamente as estantes no interior do espaço e as zonas de leitura junto aos vãos exteriores, normalmente situados a norte ou na proximidade do poço de luz natural, com luz mais quente, do sul.

Nestes dois pisos localizam-se também, do lado sul, bem dimensionadas salas de leitura e estudo em grupo, para além de pequenos espaços individuais para quem realize trabalhos de investigação.

Aulas e Gabinetes do Iscte II

Em estreita ligação com o átrio, superiormente aos espaços de restauração, mas distribuídos por vários pisos, situam-se os espaços das aulas teóricas orientados a nascente e poente, acessíveis a partir de uma circulação central.

E, conforme já referimos, a nascente do átrio central localiza-se um corpo que, nos pisos inferiores, contém diversas zonas de informática e laboratórios, enquanto nos superiores se situam os gabinetes do corpo docente, numa distribuição linear que alterna com pequenos espaços, alguns com pé direito duplo, destinados a encontros ou reuniões informais dos docentes, eventualmente com visitantes. Estes gabinetes, padronizados e distribuídos por vários pisos, destinam-se, conforme a sua dimensão, a um, dois ou mais docentes.

ICS – Instituto de Ciências Sociais

No extremo nascente deste edifício, com acesso do lado norte a partir da Av. Prof. Aníbal Bettencourt, situa-se num corpo separado, o Instituto de Ciências Sociais (ICS), que possui neste edifício, mas com total autonomia, as suas instalações definitivas, integrando todos os espaços necessários ao funcionamento da instituição, dedicada em primeiro lugar à investigação no domínio das ciências sociais, mas também ao ensino, em cursos de pós-graduação e outras atividades complementares. Para essa finalidade, o edifício inclui espaços diversificados, de receção, administração, auditório, salas de aula e seminários, biblioteca, babinetes, salas de convívio e refeições, entre outros.

 

Átrio, Aulas e Auditório do ICS

De acordo com a definição programática das atividades deste edifício, os pisos inferiores concentram as atividades abertas ao exterior, enquanto os pisos superiores se destinam basicamente às atividades internas de estudo e investigação.

Nesse sentido o Átrio do edifício assume uma grande importância pela função que tem, de acolhimento, garantindo o direto acesso aos espaços de maior utilização por estudantes e visitantes, que são o Auditório, as salas de aula e de seminários e um espaço de convívio e bar. Do mesmo modo a ligação ao piso superior, onde se situa a Biblioteca e os espaços Diretivos e administrativos é de particular relevância, tal como a configuração e posicionamento da escada de acesso.

O Auditório está em estreita ligação com o Átrio, bem como a sala de seminários que lhe é frontal, sendo particularmente cuidado na sua conformação e nos materiais que o constituíram, dispondo de um vão que permite o contacto visual com o exterior, paisagisticamente tratado, tendo por fundo uma cortina de árvores.

Biblioteca do ICS

A definição do acesso e estrutura espacial da Biblioteca do ICS, que se situa no piso superior à Entrada, foi objeto de tratamento particular, como um dos espaços chave que é de todo o edifício, pretendendo-se que o seu ambiente se harmonizasse com os objetivos propostos.

Assim, o espaço de entrada da Biblioteca, com um balcão lateral de receção, tem uma vista frontal sobre um espaço de estar e leitura informal, que antecede uma mesa circular para estudo e leitura com uma vista direta para o exterior. Estruturando este espaço dos dois lados existem estantes e mesas de leitura, à escala do número de visitantes e consultas previsíveis, havendo ainda pequenas salas para publicações periódicas e outras funções.

Gabinetes e Sala de Convívio do ICS

Conforme referido, os pisos superiores destinam-se a gabinetes e salas de estudo e investigação, destinadas a uma ou mais pessoas, conforme os objetivos e dimensões da organização dos trabalhos em curso. A distribuição linear dos gabinetes é quebrada pela existência de pequenos espaços de encontro e reunião.

No último piso do ICS, para além dos gabinetes previstos, foi localizado um espaço de convívio preparado para refeições ocasionais, com apoio de cozinha, que beneficia de um terraço que diversifica o espaço interior.

Texto em ‘ver mais’ retirado de Raúl Hestnes Ferreira, Arquitectura e Universidade – Iscte, Lisboa, 1972-2005 (aceder doc).

 

PUBLICAÇÕES

 

ISCTE, Lisboa, Arq. Raul Hestnes Ferreira, in Arquitectura de cimento branco na Península Ibérica

Autores: Hélder Carita, Homem Cardoso. Edição Secil. pp. 46-51. Data: 2002.

 

Edificio dell’Istituto Superiore di Scienze del Lavoro e dell’Impresa, Lisbona

Archi: rivista svizzera di architettura, ingegneria e urbanistica, nº2, pp.32-39. Data: 2003.

 

Os novos Valmor

Arquitectura e Construção, nº25, pp.58-61. Data: 2004-03.

 

Edifício II do ISCTE, Prémio Valmor 2002 ex-aequo

Archi News, nº2, pp.72-73. Data: 2004-11.

 

Do ISCTE a Fontenay, memórias de viagem: edifício do ISCTE II e ICS

Autor: José Forjaz. Arquitectura e Vida, nº57, pp.44-51. Data: 2005-02.

 

História Crítica do Prémio Valmor

Autor: José Manuel Pedreirinho. Argumentum, Lisboa. 176pp. Data: 2018.

Imagens texto © Fundação Marques da Silva, Arquivo Raúl Hestnes Ferreira

Fachada do Iscte II, Edifício Iscte II/ICS (1993-2002). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0245-foto5.1 007.

Acessos verticais do Iscte II, Edifício Iscte II/ICS (1993-2002). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/

Acessos verticais na Biblioteca do Iscte II, Edifício Iscte II/ICS (1993-2002). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0245-foto5.3 002.

Interior da Biblioteca ICS, Edifício Iscte II/ ICS (1993/2002). Nº de registo: PT/FIMS/RHF/0245-foto5.7 004.

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