Raúl Hestnes Ferreira nasceu em 1931 em Lisboa. Estudou arquitetura nas Escolas de Belas Artes do Porto e Lisboa, onde se diplomou em 1961, tendo passado pelo Instituto de Tecnologia de Helsínquia, pela Universidade de Yale e pela Universidade da Pensilvânia.
Lecionou no Departamento de Arquitetura da ESBAL entre 1970-72 e no Curso de Arquitetura da Cooperativa Árvore do Porto, de 1986 a 1988. Foi Professor Catedrático convidado do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desde 1991 até 2003, no Iscte de 2001 a 2003, e na Universidade Lusófona de 2010 até à sua morte, em 2018.
Foi autor de várias obras emblemáticas, entre as quais se contam os principais edifícios do campus do Iscte: Iscte I, Ala Autónoma, INDEG e Iscte II / ICS. Estes dois últimos valeram-lhe a atribuição, respetivamente, de uma menção honrosa do Prémio Valmor em 1993 e, em 2002, do Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura. Foi ainda distinguido com o Prémio Nacional de Arquitetura e Urbanismo em 1982, e com o Prémio Eugénio dos Santos e o Prémio Nacional de Arquitetura em 1993. Em 2007 recebeu o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra e em 2010 o título de Membro Honorário da Ordem dos Arquitetos.
Raúl José Hestnes Ferreira (1931-2018) nasce em Lisboa, filho do poeta e escritor José Gomes Ferreira e de Ingrid Hestnes Ferreira. A vertente republicana e democrata que apreendera de seu avô paterno Alexandre Ferreira e o universo literário neorrealista seguido por seu pai, José Gomes Ferreira, são influências fundamentais, ao longo da sua vida. Embora o seu pai fosse escritor, o seu círculo de amigos incluía vários artistas plásticos e a proximidade entre a sua família e a do arquiteto Keil do Amaral foi muito importante e mesmo determinante na escolha do seu futuro como arquiteto.
O seu percurso no Ensino Superior começa com a admissão à Escola de Belas Artes de Lisboa, no 1º ano de Escultura, no ano letivo 1950-51. No ano seguinte, transita para o Curso de Arquitetura da mesma Escola, tendo sido expulso, por motivos políticos, no final desse ano letivo. Em 1952, inscreve-se no 1º ano do curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Porto, então dirigida pelo arquiteto Carlos Ramos, vindo a ser aluno, entre outros, de Fernando Távora e José Carlos Loureiro. Nesta cidade estagia com Arménio Losa e João Andresen. Termina o 4º ano apenas em 1956-57 por ter sido impedido pela PIDE de o fazer no ano letivo anterior. O diploma de Arquiteto, atribuído pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, será apenas obtido em 1961, com uma tese sobre Residências Universitárias (Plano e Projetos), classificada com 19 valores, tendo sido membro do júri Carlos Manuel Ramos.
Entretanto, em parte justificado pela naturalidade da sua família materna, norueguesa, em parte pelo fascínio pela obra de Alvar Aalto, decide ir viver para a Finlândia. Entre 1957 e 1958, estuda no Instituto Finlandês de Tecnologia de Helsínquia, como aluno externo, urbanismo com Otto Meurmam (18901994) e arquitetura com Heikki Siren (19182013). Estes dois arquitetos têm um forte impacto na formação de Hestnes Ferreira, revelando-lhe, nomeadamente, a importância do sistema construtivo e da estrutura como fatores integrantes do processo conceptual. Em 1958, colabora no escritório de Woldemar Baeckman (19111994), em Helsínquia, e também durante este período desenvolve, como colaborador de Osmo Rissanen, um Concurso para uma Igreja.
Em 1960, regressa a Portugal e permanece ainda durante um ano em Lagos, no Algarve, associado a José Veloso, realizando vários projetos, em equipa e individualmente. No conjunto dessas obras inclui-se a Casa de José Gomes Ferreira, em Albarraque, e as casas Mimoso e Shrimpton, na Praia da Luz, esta última posteriormente destruída.
Entre 1962 e 1965, viaja para os Estados Unidos da América. Uma Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian permite-lhe estudar em Yale, onde estuda Arquitetura com Paul Rudolph e estagia na empresa Cope & Lippincott. Posteriormente, mas ainda nesse ano, começa a trabalhar em Filadélfia no atelier de Louis Kahn. Enquanto colaborador do atelier, participa nos Planos dos Centros Governamentais do Paquistão em Dacca e Islamabad; nos Edifícios da Assembleia Nacional em Dacca e Islamabad; no Hospital Principal em Dacca (como responsável); na Escola Superior de Administração em Ahmedabad, União Indiana; e na Escola de Arte em Filadélfia.
A sua atividade docente inicia-se em 1970, ano em que participa nas Experiências Pedagógicas orientadas por Frederico George, como Assistente de Arquitetura dos 4º, 5º e 6ºanos da Escola de Belas Artes de Lisboa. Contudo, na sequência da determinação do Ministério da Educação Nacional de suspender as referidas experiências, pediu a rescisão do contrato de assistente, tendo permanecido na ESBAL até ao final do ano letivo 1971-72. Foi professor convidado do Curso de Arquitetura da Cooperativa Árvore, nos anos letivos 1986-87 e 1987-88, saindo a seu pedido após mudança da estrutura pedagógica da Cooperativa. Por um período de doze anos, entre 1991 e 2003, foi Professor Catedrático convidado do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Também lecionou no Iscte, no departamento de Arquitetura e Urbanismo, no período compreendido entre 2001 a 2003, encontrando-se, desde 2010 até à sua morte, a lecionar no Departamento de Arquitetura da Universidade Lusófona, como Professor Catedrático.
A sua relevância para a História da arquitetura Portuguesa é sublinhada pelos títulos que recebeu, quer em termos académicos, como de reconhecimento profissional, enquanto arquiteto. Em 2007 recebeu o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra e em 2010 recebeu o título de Membro Honorário da Ordem dos Arquitetos. Em 2011 foi agraciado com a Medalha de Mérito da Universidade de Lisboa e por último em 2014, recebeu o Diploma de Reconhecimento e Mérito da Universidade Lusófona.
Como reconhecimento profissional das várias distinções que lhe foram atribuídas, salienta-se em 1982 o Prémio Nacional de Arquitetura e Urbanismo, da Secção Portuguesa da Associação Internacional dos Críticos de Arte; nesse mesmo ano, a Menção Honrosa, do Prémio Valmor, para a Escola Secundária de Benfica, atualmente Escola Secundária José Gomes Ferreira. Em 1993 o Prémio Eugénio dos Santos, da Câmara Municipal de Lisboa, 1ª atribuição, pela remodelação de edifício na Av. da República, em coautoria com Manuel Miranda; nesse mesmo ano o Prémio Nacional de Arquitetura -Construção, Técnica, Detalhe – dado pela Associação dos Arquitetos Portugueses, pelo projeto da Agência da Caixa Geral de Depósitos em Avis; e a Menção honrosa, do Prémio Valmor, para o Edifício do INDEG no campus do Iscte; em 1994 o 1º Prémio do Concurso para a Remodelação do Museu de Évora; e por fim o Prémio Valmor 2002, em ex-áqueo, para o Edifício do Iscte II / ICS.
Para além da vertente da Arquitetura e do Planeamento Urbanismo em gabinete próprio, também desenvolve a sua atividade noutros organismos em Portugal. Entre 1966 e 1967, trabalha no Gabinete Técnico da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa, no Plano Diretor Municipal e em projetos para Chelas. Durante a década de 70 integra a Direção Geral das Construções Escolares, participando entre outros projetos, na revisão do Plano da Cidade Universitária de Lisboa. Coincidente em parte com este período, designadamente entre 1976 e 1986, exerce a função de consultor de Gestão Urbanística para a Câmara Municipal de Beja.
Enquanto autor de textos sobre Arquitetura e Planeamento Urbano, na imprensa, em revistas técnicas, catálogos e livros, salienta-se a organização e textos do número 185 de L’Architecture d’Aujourd’hui dedicado a Portugal (maio/junho 1976); a investigação, organização e textos da Exposição e Catálogo sobre Cassiano Branco, em colaboração com o Arquiteto Fernando Gomes da Silva, em 1986. Em 2002, as Edições Asa, sob coordenação editorial de José Manuel das Neves, publica Raúl Hestnes Ferreira – Projectos 1959-2002, uma primeira resenha monográfica da sua obra até então.
Hestnes Ferreira proferiu diversas conferências em Portugal, França, Bélgica, Noruega, Itália e México, em diferentes anos.
Como guardião da memória literária de seu pai colabora em vários projetos de divulgação da sua vida e obra. Em 2000, vai organizar a Exposição José Gomes Ferreira, no Palácio das Galveias, em Lisboa, por altura do centenário do seu nascimento, sendo também o autor da Fotobiografia de José Gomes Ferreira, publicada pela Dom Quixote, em 2001.
Julho de 2018
Alexandra Saraiva
Texto originalmente elaborado para o Sistema de Informação Raúl Hestnes Ferreira da Fundação Marques da Silva (aceder).
Imagens © Fundação Marques da Silva, Arquivo Raúl Hestnes Ferreira
No banner: Raúl Hestnes Ferreira: Autorretrato, Finlândia, 1958. Nº de registo: PT/FIMS/RHF-fotoautorretrato-Finlandia.
No texto: Raúl Hestnes Ferreira: Fotografia Raúl Hestnes Ferreira, Helsínquia, 1958. Nº de registo: PT/FIMS/RHF-fotoHelsinquia1958.