Quintas e hortas

O sítio onde hoje se encontra o Iscte foi, desde finais do século XII, uma zona rural onde predominavam as vinhas. No entanto, nos finais do século XV, as hortas cresceram de número, de modo que, no começo do século XVIII, este território foi descrito como um vasto terreno povoado de nobres quintas e muitas hortas.

Em 1755, este foi um dos locais de Lisboa menos afetado pelo terramoto, o que levou a que tenha sido procurado por muitas pessoas logo após a tragédia. Deu-se assim início a uma migração para este local, que levou ao aumento significativo do número de quintas. No século XIX, os passeios às hortas tornaram-se muito ao gosto dos lisboetas, sendo que os mais ricos se refugiavam nas suas quintas, enquanto o povo aproveitava os feriados e domingos para aqui descansar, passear e divertir-se.

No início do século XX surgiram as primeiras perspetivas de mudança para este território, inicialmente sob a forma de um projeto para um bosque ou parque florestal aberto. No entanto, a proposta nunca chegou a sair do papel, pelo que o caráter rural deste território, composto por várias quintas com vinhas e muitas hortas, não se alterou significativamente durante o primeiro quartel do século XX.

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Iscte I
(1976-1978)

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Iscte III
(1989-1995)

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INDEG
(1991-1995)

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Iscte II / ICS
(1993-2002)

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Iscte I
(1976 – 1978)

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Iscte II / ICS
(1993 – 2002)

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Iscte III
(1989 – 1995)

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INDEG
(1991 – 1995)

Vinhas e hortas em abundância

O campo de Alvalade era um território rural onde não existiam povoações relevantes, já que muito próximo existiam, desde a Idade Média, a importante aldeia do Lumiar e, nos finais desse período, Telheiras. Foi inicialmente uma zona onde predominavam as vinhas, pelo menos desde finais do século XII. Tal não significa que esta fosse a única produção existente, pois muitas vezes encontravam-se árvores à sua volta, como oliveiras e outras árvores de fruto. Nos finais do século XV as hortas cresceram de número, sendo que começaram a ser especificamente assinaladas nos inventários a partir do século XVI. No começo do século XVIII, este território foi descrito pelo padre Carvalho da Costa como um vasto terreno povoado de nobres quintas e muitas hortas. De igual modo, nas Memórias Paroquiais, escritas em 1758, assinalou-se que quase todas as quintas tinham vinhas e hortas, pelo que eram aqui produzidos vinho e hortaliças em abundância.

O encanto do campo

Em 1755, o terramoto deixou em ruínas cerca de setenta casas desta freguesia. Apesar das dezenas de ocorrências registadas, este foi um dos locais de Lisboa menos afetado, o que levou a que tenha sido procurado por muitas pessoas logo após a tragédia. Deu-se assim início a uma migração para este local, que não se traduzindo propriamente num crescimento urbano, levou ao aumento significativo do número de quintas. Este interesse de uma nobreza e burguesia lisboeta, que buscava a paz das suas quintas e os bons ares dos seus campos, acentuou-se a partir do final do século XVIII e consolidou-se no seguinte.

Os passeios às hortas tornaram-se muito ao gosto dos lisboetas, sendo que os mais ricos se refugiavam nas suas quintas, enquanto o povo, que a partir de 1835 pode contar com autocarros até ao Campo Grande, aproveitava os feriados e domingos para aqui descansar, passear e divertir-se. E assim, em 1874, Pinho Leal descreveu este local, na sua obra maior Portugal antigo e moderno, como uma extensa planície arborizada e ajardinada muito frequentada pelos lisboetas, cercada por belas casas, quintas e hortas.

Aquilino Ribeiro, que viveu no Campo Grande entre 1915 e 1920, referiu-se a esta zona no conto Domingo de Lázaro, designando-a como arrabalde de Lisboa, salpicado de granjas, casais e noras. Também Mário Soares, que aqui viveu a partir de 1935, recordava as quintas e hortas que existiam onde hoje se encontra a Cidade Universitária, que percorreu muitas vezes de bicicleta e por onde passou em fuga à PIDE, em 1949.

Prenúncio de mudanças

Com o início do século XX surgiram as primeiras intenções urbanísticas para este território. Sob a égide do Engenheiro Frederico Ressano Garcia e enquadrado no seu Plano Geral de Melhoramentos da Capital (1901-1904), foi elaborado o projeto para um bosque ou parque florestal aberto na zona ocidental do Campo Grande. (ver mais)

Apesar da ambiciosa proposta nunca ter chegado a sair do papel, a sua existência foi nefasta para os proprietários locais, pois a desvalorização dos terrenos e quintas, motivada pela sua classificação como não urbanos, foi oportunisticamente aproveitada pelo Estado Novo aquando das expropriações decretadas com vista à construção da Cidade Universitária.

No entretanto, o caráter rural destes campos não se alterou significativamente durante o primeiro quartel do século XX. Isso o confirmam diversos anúncios então publicados para venda e aluguer de vinhas e hortas neste local, mas também o detalhado levantamento topográfico realizado por Júlio Silva Pinto em 1908. Nesse documento ficou registada a ruralidade deste território, composto por poucas edificações, várias vinhas e muitas hortas. Do mesmo modo encontram-se referenciadas as várias quintas que então compunham o território onde hoje se situa o Iscte, como as Quintas da Amendoeira, da Ucharia e da Torrinha, cuja história ajudou a definir a localização da Cidade Universitária.

Quinta da Torrinha

A Quinta da Torrinha deve o seu nome ao palacete revivalista idealizado por José Simões Ferreira Machado em 1892. Projetado inicialmente com apenas um piso e um torreão, adquiriu a sua feição final com dois pisos compostos por elementos de características militares, reminiscências góticas e influências Arte Nova, em 1916, por intermédio de Augusto de Albuquerque. Este edifício foi concebido como habitação principal de uma quinta agrícola que se esperava dinamizar, tendo este proprietário, com este fim em vista, ampliado o armazém de alfaias agrícolas existente e construído um outro. (ver mais)

No entanto, a 19 de fevereiro de 1920, a Quinta da Torrinha foi adquirida pela Faculdade de Farmácia, por 225 contos, para aí construir as suas novas instalações. Esta instituição situava-se, desde a sua fundação no século XIX, num pequeno espaço no interior da Faculdade de Medicina, então no Campo de Santana. Dadas as condições precárias e sem capacidade de expansão, recebeu da parte do Estado, a 10 de maio de 1919, um empréstimo de 500.000$00 para aquisição de um terreno para instalar a Faculdade. A escolha recaiu sobre a Quinta da Torrinha e com a transferência desta instituição para este local, a que se associou a compra, pouco tempo depois, da antiga Quinta da Nazareth pela Faculdade de Medicina para aí construir o futuro Hospital Universitário, deu-se início ao processo que levou à transformação deste território na Cidade Universitária de Lisboa.

Imagem banner: O Campus do Iscte. Ortofotomapa, 2016. © Câmara Municipal de Lisboa

Imagem O encanto do campo: Trabalhos agrícolas junto ao Mercado Geral de Gado. Autor: Joshua Benoliel. Data: c.1910. Código de referência: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002448. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa. © Câmara Municipal de Lisboa (VER MAIS)

Imagem Prenúncio de mudanças: Extrato da planta geral do estudo de um bosque ou parque florestal aberto. Autor: Frederico Ressano Garcia. Data: 1908. Código de referência: PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/05321/06. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa. © Câmara Municipal de Lisboa (VER MAIS)

Imagem Quinta da Torrinha: Fonte: Revista ABC, Ano II, nº 81, 26 de janeiro de 1922.

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